O Trekking no Nepal

Mas primeiro.... o Onibus dos Horrores:

A saida de Varanasi, na India, para chegar ao Nepal foi de uma maneira inesquecivel. Ate demais.

Ja havia pego um trem noturno indiano para chegar a cidade de Varanasi, e, por falta de vagas e para economizar grana, dormi na segunda classe, dormindo com uma galera em camas suspensas nos corredores do trem.

Mas viajar no onibus que leva da cidade de Varanasi ate a fronteira do Nepal, e depois ate a cidade de Pokhara, foi demais.

Todos os onibus sao bastante coloridos. Seria para alegrar os passageiros?

Tudo comeca com voce entrando em um onibus onde os assentos sao para meia pessoa. Ou seja, ate um sujeito magro como eu fica com o corpo ''duelando'' com o cidadao do lado, com um ombro empurrando o outro.

Para melhorar, imagine um onibus que nao parte ate que esteja COMPLETAMENTE cheio. Isso mesmo. Na India, nos onibus locais, nao tem essa de partir no horario combinado (no meu caso, 9:30 da noite para uma viagem noturna ate a fronteira).

La, o onibus apenas parte depois que nao houver um unico lugar sobrando. Mesmo. E sem contar as malas, que vao ou no seu colo ou no meio do corredor, sendo pisadas pelas pessoas.

Adicione a ausencia de encosto para a cabeca (o que te obriga a dormir com a cabeca no assento da frente), um motorista que busina o tempo inteiro (mesmo), alguns onibus tombados no caminho da perigosa estrada ate a fronteira, e 22 horas de puro deleite (22!!!!).

Imaginou? Foi com certeza a pior viagem de onibus da minha vida. Eu jurei nunca mais reclamar da Transtusa ou da Gidion.

Apos quase 1 dia dentro do onibus, espremido entre um senhor gordinho de bigode (foi sacanagem de alguem, podia ser alguem magro tambem!) e uma senhora com uma crianca no colo (que claaaaaro, chorou durante algum tempo), finalmente cheguei a fronteira do Nepal.

Apos as burocracias de praxe, rumei para a cidade de Pokhara, no Nepal, conhecida por ser a base dos trekkings mais bonitos e famosos do planeta.

Pokhara, a Bariloche da Asia:

Pokhara lembra demais a cidade de Bariloche, na Argentina. Fica a beira de um lago muito bonito, tem as ruas principais com varios restaurantes e comercio e, ao fundo, o melhor.

A cidade fica localizada aos pes dos Himalayas, mais precisamente da regiao dos Annapurnas, uma regiao dos Himalayas conhecida pela beleza, pela parque nacional que a cerca (Parque Nacional dos Annapurnas), e pelos excelentes trekkings que comporta.

Depois da viagem no busao, essa cidade pareceu o paraiso pra mim!

Daqui partem expedicoes pelos Himalayas, o que inclui as maiores montanhas do planeta, muitas acima dos 8.000 metros, e apenas um pouco mais baixas que o Everest (que nao fica aqui em Pokhara, fica mais ao Norte do Nepal).

Para se ter uma ideia de como o Nepal representa quase o teto do mundo, 7 das 10 maiores montanhas do mundo ficam aqui, o que atrai escaladores profissionais e turistas interessados em trekkings pelas montanhas, de nivel facil, medio ou dificil.

Comprei alguns equipamentos basicos nas ruas de Pokhara e me inscrevi para um dos trekkings mais populares da regiao dos Annapurnas: a escalada ao monte Poon Hill, com 3200 metros de altura.

E la fui eu, que esperava aguas tranquilas e pouco esforco fisico nesta viagem, me aventurar na regiao dos Himalayas, em pleno inverno.

Trekking no Nepal - A escalada ao Monte Poon Hill

O trekking estava previsto para durar 4 dias. Acordei e logo pela manha, com um frio desgracado, fui encontrar meu guia, o Moku, para comecarmos a subir a montanha.

Peguei com ele o certificado (obrigatorio na escalada), ele pegou minhas bagagens (aqui os guias carregam sua principal mochila, yes!), e comecamos a subida.

Praticamente o caminho todo passa por estradas de pedra, ribanceiras e montanhas ao fundo

Eu pensava que era moleza subir a montanha sem precisar carregar muito peso. Ja que o guia leva a mochila grande, o peso nas costas nao se torna um problema. Grande engano. A rapidez e o folego dos nepaleses esta explicado tambem por um fator que nao damos muito importancia, mas que acaba com voce em uma escalada: a altitude.

No caminho, tambem um pouco de neve. Inverno nos Himalayas, tava esperando o que, calor?

Eu via aquelas senhorinhas passando por mim carregando comida e muito peso nas costas, e andando o dobro da minha velocidade, enquanto quase me arrastava pelos degraus de pedra, e pensava ``Caramba, como elas conseguem?``

''Calma Jean... calma. Se a ponte cair, voce nao morre. No maximo quebra uma perna'' Motivacao para atravessar!

No caminho, tambem passamos por diversas vilas, onde se conhece o verdadeiro Nepal. Ali, locais lhe oferecem o masala chai, um tipico cha (por sinal muito bom), e o saudam com o tipico ``Namaste``.

A saudacao Namaste usada pelos nepaleses tem por todo o caminho, e substitui o ``Oi`` e o ``Tchau`` que sempre usamos.

Vire sua cabeca e leia uma bela mensagem sobre o Nepal!

Subir as montanhas carregando de tudo, de comida a roupas, eh uma necessidade e ate uma profissao para os nepaleses. Seguida por mulheres e idosos

Nas vilas, apos algumas horas de caminhada, eu e o Moku (Moku... Nepal... palavras que sao um prato cheio para piadinhas infames hein) paravamos e ficavamos batendo papo com os locais e tomando um cha.

Incrivel como o povo nepales, principalmente este pessoal que vive nas vilas, eh simples e muito simpatico.

As mulheres nepalesas sao muito baixinhas! E o povo nepales.... gente finissima!

 Apos muita subida e cansaco, chegamos quase ao topo do Poon Hill, onde muito cansado por causa da altitude (ja acima dos 3000 metros), descansei em um quarto das vilas (eles cobram 1 dolar por noite. O Nepal eh muito barato!) para, no dia seguinte, chegar ao topo realmente.

Detalhe que acordamos as 5:00 da manha para ver o nascer do sol no topo e enfrentamos um frio danado para chegar ao topo, o que me fez pensar novamente na sina desta viagem, que, raios, ja me fez acordar de madrugada muito mais vezes do que preciso acordar em um ano quando estou em casa.

Mas, como nas outras vezes, valeu a pena.

No topo do Poon Hill, com os Himalayas ao fundo. Brrrrr!

O nascer do sol no Poon Hill, a 3200 metros de altura, se torna bonito demais com os Himalayas ao fundo.

Nascer do sol no Poon Hill

E, embora o dia estivesse um pouco nublado, ainda assim conseguimos ver bem de perto os Himalayas com toda a sua imponencia. Demais!

No topo do Poon Hill com o guia Moku, e a camiseta do Brasil!

Por fim, arrumamos as malas e descemos novamente o Poon Hill pelas escadarias de pedra.

Escalar o monte valeu muito a pena pelas vistas mas, sinceramente, muito mais por conhecer as vilas e o povo nepales. O verdadeiro Nepal esta aqui!

Por fim, ainda fiquei sabendo que um dos passeios mais populares (e dificeis) aqui nos trekkings do Nepal eh ir ate o acampamento-base do Everest, a cerca de 5000 metros de altura. Um trekking dificil que dura de 14 a 20 dias, mas que alguem preparado, mesmo nao sendo profissional e sim apenas um turista, pode fazer.

Quem sabe daqui a alguns anos.... alguem topa ir junto?

O Egito ta bombando!

Antes de acabar o post sobre o Nepal, preciso falar sobre a situacao no Egito.

Ha alguns dias ja havia sido alertado que o Egito, meu proximo destino de voo depois da dupla India/Nepal, nao estava muito bem politicamente.

Mas foi apenas quando estava na vila de Ghorepani, a 3000 metros de altura, que resolvi acessar em um computador super simples (e lento... e ruim) meus emails para falar com a familia e acabei sabendo. Sei la porque, acessei o site Globo.com e, pela primeira vez na viagem, fiquei realmente assustado.

Nas principais noticias do site (e depois fui ver, na Folha.com tambem), os comentarios eram sobre a revolta no Egito que busca retirar o presidente/ditador do poder, com toques de recolher das 3 da tarde ate as 7 da manha, com tanques nas ruas, e com toda a comunicacao (inclusive internet) sendo cortada pela governo, que buscava (e busca) conter os animos. Dois jornalistas brasileiros ainda foram presos e depois expulsos do pais, em um lugar onde uma guerra civil parece questao de tempo.

Se torna bastante normal em uma viagem viajando sozinho surgirem problemas, como alguma pequena doenca (como febre ou dor no estomago) ou a perda de algum objeto. Mas estas situacoes podem ser facilmente resolvidas se voce tiver apenas uma coisa: o controle da situacao (o que nestes problemas inclui o medicamento correto e os principais objetos, como passaporte, cartao e dinheiro, sempre com voce).

Mas pela primeira vez na viagem, senti que tinha um baita problema (uma viagem em alguns dias marcada para o Egito) e um problema que nao podia resolver naquele momento (a mudanca da passagem, que precisava de uma ligacao em um local onde o celular nao pega), o que me fez perder o sono naquela noite e foi bem complicado.

Desci bem rapido a montanha no dia seguinte, e eu o Moku cortamos caminho por alguns lugares, para chegar o quanto antes em Pokhara, uma cidade com infraestrutura, e poder fazer alguma coisa com aquela situacao que tanto incomodava. Caramba, eu estava indo em 5 dias para um pais prestes a entrar em guerra! E onde eu estava? A 3000 metros de altura, sem a comunicacao adequada.

''Isso ai, bora capturar mochileiros! Eles valem o dobro de pontos!''

Na minha mente, comecei a imaginar lugares entre a India (local de partida do meu voo) e o Marrocos (destino que tomaria depois de passar pelo Egito.)

Que tal a Tunisia como alternativa de viagem? Nao... esta tao perigosa quanto o Egito... Argelia? Tambem nao parece dos melhores. Aquela regiao inteira esta complicada.

Apos muito correr atras, ligar e esperar as respostas por email, alem de buscar elaborar um roteiro que fosse condizente com o proposito da viagem (uma viagem de volta ao mundo) mas que fosse seguro, optei pela... tcharam... Turquia.

E deu tudo certo! A troca foi aceita pela companhia (que por sinal sequer cobrou multa, respondendo que a situacao no Egito esta ``critica``) e ficarei agora 21 dias conhecendo este pais (Turquia), talvez indo para a Grecia ou Bulgaria tambem.

Ja comprei o guia e estou preparando um roteiro pela Turquia para contar boas historias a voces.

 Espero que o pais valha a pena, tendo em vista a Depressao Pos-Egito (ter que reelaborar um roteiro que voce criou por meses para ser magnifico acaba com sua moral.)

Mas ja esta tudo otimo, nao vou conhecer as piramides, mas fica pra outra. Quem sabe na Turquia nao tenha algo especial esperando? (seriam kebabs?)

Um abraco, ate a Turquia! (e adeus Egito, quem sabe um dia...)