domingo, 13 de março de 2011

A estrada para o antigo deserto

Após ter visitado a capital Windhoek e as savanas da Namibia, chegava o momento de terminar a viagem.
E para isto, o fim da aventura de volta ao mundo precisava ser em um lugar especial.
Foi assim que, durante 4 dias, me mandei para um dos lugares mais desolados e inóspitos do mundo: o deserto de Namib, que cobre toda a costa da Namibia, considerado o deserto mais antigo do planeta.

Deserto de Namib:
Por causa da corrente fria que vem há seculos da Antartica, toda a costa da Namibia tem um mar gelado e pouco convidativo, inclusive tendo a famosa Costa do Esqueleto ao norte.
Esta Costa ficou famosa pela enorme quantidade de navios que naufragou por ali no passado, tendo em vista o mar agitado e complicado.
Aos que sobreviviam ao naufrágio, restava em terra quilômetros e mais quilômetros de um dos piores e mais imperdoáveis desertos do mundo, o Namib, que formou-se ao longo dos anos justamente pela corrente de água fria vinda da Antartica. Daí o nome, Costa do Esqueleto, e daí o nome, Namíbia.


E no meio do deserto, Solitaire, a menor cidade da Namibia. No meio do nada, com carros enferrujados por todo canto e apenas um posto e um bar
O Deserto de Namib cobre toda a faixa do litoral da Namibia, e para se chegar lá, dirige-se por centenas de quilômetros sem praticamente nada a vista: sem carros, sem animais ou qualquer forma de vida visível, apenas uma pequena vilazinha no meio do nada chamada Solitaire.



Mas é chegando lá que se percebe porque o Namib já foi tema de vários documentários, e está em diversas imagens de filmes em todo o mundo. Suas dunas são laranjas, quase vermelhas, e não bastasse estarem no deserto mais antigo do mundo, ainda são as maiores do planeta. Bonitas, enormes, imponentes.

Deserto de Namib e, ao fundo, a maior duna do mundo, com 350 metros de altura
Escalar estas enormes dunas pode parecer fácil, já que as que oferecem belas paisagens tem cerca de 150 metros de altura, e a mais alta do mundo, que também fica ali, tem 350.
Mas experimente caminhar sob um sol de no mínimo quarenta graus sob uma areia extremamente fofa e você irá entender do que estou falando.

A sensação é a de que você está parado, sem conseguir realmente escalar a duna, enquanto o estoque de água vai diminuindo sensivelmente a cada 5 ou 10 passos, já que o calor é insuportável. A vontade é a de desistir, de voltar logo para o caminhão ou procurar sombra mais próxima.


O nascer do sol faz as areias ficarem alaranjadas


Um dos locais mais secos do mundo, o Deserto Namib ainda assim abriga diversos animais que vivem sob seu chão

Mas chegar no topo, outra vez, valeu muito a pena. As vistas que se tem de um deserto tão incrível foram demais. E não posso negar, o deserto faz sim você ficar mais pensativo sobre a sua vida (ainda mais em um fim de viagem!).
As areias que variam de cor conforme o horário do sol, e a imensidão sem absolutamente nada são algo incrível, uma paisagem que não oferece uma sensação igual.

Escalar esta duna com 150 metros de altura foi MUITO cansativo. O pé afundava na areia e era quase impossível se locomover


No topo da duna! Com um chapéu meio Indiana Jones
No grupo em que estava, ainda dormimos no meio do deserto, mas em barracas, o que tornava as noites completamente silensiosas, ás vezes apenas com o barulho do fogo que úsavamos para fazer a comida. 

Contávamos histórias, ríamos, e provavelmente éramos os únicos seres humanos em um raio de quilômetros e mais quilômetros.


Como descer uma duna muito alta e íngreme? Ora, correndo! E seja o que Deus quiser...


Nascer do sol
 Subimos as dunas, acordamos 5 da manhã em diversos dias para ver o nascer do sol e caminhamos ao meio dia no deserto para ver a região onde está o cemitério das árvores, que estão lá, estáticas, há vários séculos, em vista do chão endurecido.

Que guerrinha de neve que nada! No deserto, o ''material'' para a guerra são blocos de terra que se desmantelam quando jogados


''Olha o abutre! Cuidado, uma vez um deles atacou um turista!'

E foi lá, no meio do deserto mais antigo do mundo, com as dunas mais altas do planeta, que me bateu uma nostalgia e comecei a me lembrar com alegria de tudo que aconteceu nesta viagem.

Me lembrei dos primeiros preparativos, rodando o globo e planejando os lugares onde parar. Lembrei da correria para conseguir os vistos, os papéis, para organizar os equipamentos.
Comecei a pensar sobre a Nova Zelândia e sua natureza, sobre a primeira vez na Ásia  em Bangcok(inesquecível!), sobre o país mais difícil de se mochilar e também o mais interessante (a Ìndia) e sobre tudo que aconteceu lá.

 Lembrei da Turquia, das mudanças de roteiro de última hora, das pessoas que conheci. Lembrei das dificuldades também, dos ônibus de mais de 20 horas, do banho turco, de Angkor no Camboja.

 Recordei da Missão Sudam, da senhora que me recebeu na cidade do Pum, do trekking com o guia Moku, da família pobre que me acolheu na Ìndia. Lembrei dos comentários incríveis e engraçados do blog, de todos que ajudaram, e do pessoal que viajou junto comigo no Camboja, na Turquia, no Nepal, as vezes aparecendo nas horas que eu mais precisava de um empurrão.

Consegue ler? É um sincero OBRIGADO direto das areias na Namibia a você, que me acompanhou nesta fantástica aventura!

E acho que no final, o que passou pela minha cabeça foi uma sensação incrível de satisfação, de dever cumprido. Tinha um sonho e o realizei, maior até do que o sonho original! Fui longe, dei uma volta ao mundo, caramba! E ele nem é tão grande assim. No final, o mais difícil realmente é colocar a mochila nas costas e partir.

 Comecei a pensar no que vem agora, mas me lembrei que uma parte da minha vida já está muito bem realizada, que aos 70 anos vou poder olhar para trás e dizer que uma grande parte do que sonhei se realizou, graças à força de vontade e a ajuda de pessoas maravilhosas. Uma volta ao mundo, uau!

E me preparei para partir, para acabar esta volta ao mundo, e tudo isto que foi tão fantástico.
Como em toda viagem, como em toda grande aventura, chega uma hora de ir embora, com um pouco de tristeza porque acabou, mas alegria por tudo, tudo que aconteceu. Arrumar as malas e voltar, para só então talvez cair a ficha de tudo o que passou em sua vida.

No deserto, percebi que é hora de finalmente ver de volta minha família, amigos e voltar a vida normal, com todos os desafios que ela também oferece.

É hora de voltar para buscar cumprir outros objetivos, outros sonhos que estão aí para serem realizados, afinal, a vida é para isto. 

Hora de colocar a mochila nas costas, trazê-la de volta e deixá-la descansando por um tempo, depois de tudo que passou, de tantas coisas incríveis que me fizeram viver uns 10 anos nestes 100 dias.


Percebi que depois de 100 dias pelo mundo, é hora de voltar pra casa.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O que tem na Namibia?

Por causa das rebelioes no Norte da Africa, tive novamente que abrir o mapa mundi e procurar um local na Africa que fosse seguro, nao necessitasse de visto para brasileiro e que fosse bacana.

Acho que uma das sensacoes mais assustadoras que se pode ter em uma viagem eh descobrir alguns dias antes do seu voo (poucos dias) que o pais que voce pretende visitar esta quase em guerra, e que voce precisa mudar para outro destino que, caramba, nunca esteve em seus planos de viagem.

E foi assim que, prestes a sair da Turquia, abri o mapa da Africa, consultei a companhia area, recebi a confirmacao do voo, e me mandei para a Namibia, a opcao que acabou sendo a mais viavel.
Se alguem me falasse 1 ano atras que eu estaria no ano seguinte na Namibia (e bem no carnaval!) eu iria rir desta pessoa.

A unica vez que havido ouvido falar da Namibia na minha vida foi quando li o excelente livro ``100 dias entre Ceu e Mar`` (sentiu a inspiracao para o nome do blog?).
Ali, o velejador Amyr Klink fez sua primeira grande aventura ao sair de Luderitz, uma cidade na costa da Namibia, e atravessar a remo (a remo, sem motor, e em um barquinho de poucos metros de comprimento!) todo o Oceano Atlantico, ate chegar ao Nordeste Brasileiro, com sucesso, em uma das grandes aventuras maritimas ja realizadas por um brasileiro (seu pequeno barco, se nao me engano, esta ate hoje exposto no Museu Maritimo, em Sao Francisco do Sul-SC)
Entao la estava eu, em pleno mes de marco, indo conhecer um pais que nao fazia a minima ideia de como seria, mas que iria ser um verdadeiro banho de agua fria sobre a ate entao errada imagem errada que eu tinha da Africa.



Windhoek, a capital da Namibia: 

 O que tem na Namibia?

Impressionante como temos uma visao errada da Africa.
Geralmente pensamos que o continente tem apenas pessoas pobres, cidades feias e paises em guerra.
Ledo engano.

Comparar a Namibia, por exemplo, com Angola (que fica logo ao lado), seria muito proximo de comparar o Haiti ao Brasil, ou, em uma comparacao mais exata, a Bolivia ao Chile.
Dois paises completamente diferentes, mesmo ocupando espacos fisicos proximos.

A Namibia, embora seja um dos paises mais despovoados do mundo (tem um territorio enorme com desertos e savanas, e apenas 2 milhoes de habitantes), consegue ser mais cara que a Turquia, por exemplo.
E sim, sua capital Windhoek tem excelente infra-estrutura, shoppings e mais Mercedes-Benz por metro quadrado do que qualquer cidade que ja vi no Brasil.

Primeiro colonizada pela Alemanha, e depois sendo controlada pelos sul-africanos, a Namibia somente ganhou independencia na decada de 90, sob a influencia do SWAPO, um partido que ate hoje continua no poder, de maneira democratica mas praticamente sem oposicao ou real liberdade de imprensa (um luxo! Acredite, liberdade de imprensa parece ser um luxo depois destes paises que visitei!)

Embora no papel isto seja negado, a influencia foi grande e o apartheid trazido pelos sul-africanos ainda resiste, embora ilegal. Mesmo com a populacao sendo em maioria negra, se torna raro ver um negro comandando um negocio aqui na Namibia, por exemplo. 
Normalmente, o que se ve eh que os negros trabalham e os brancos comandam , que os negros andam de transporte publico e os brancos em carroes. Uma triste realidade mascarada, mostrando que o apartheid acabou apenas no papel.

Abaixo seguem algumas fotos da minha estada na capital Windhoek, uma cidade relativamente segura, limpa, organizada e tao capitalista ou ocidental como o Brasil.

Tirar fotos com criancinhas na Africa eh uma coisa muito Angelina Jolie + Brad Pitt. Mas ah, os moleques eram simpaticos!
Uma capital bonita e relativamente segura, com apenas 450.000 habitantes. Lembra um pouco Joinville

Como muitos angolanos buscam trabalho na Namibia, fica facil encontrar placas e conversar em portugues
No Parlamento Namibiano, um pais ainda em desenvolvimento, Mercedes novinhas para cada politico. Aprenda como se faz, Jose Sarney!
No cruzamento da Rua Fidel Castro com a Avenida Mugabe (nome do ditador do Zimbabue), a igreja mais conhecida da cidade. Mas seria bem mais sadico (e divertido) se eles colocassem um Memorial a Democracia no local
Katutura eh o nome da periferia da capital. Significa ``O lugar onde NAO queremos estar``, ja que durante o apartheid os negros foram obrigados a se mover para este distante bairro
Normalmente, os namibianos comprar as carnes nestes pequenos mercados. A vaca eh trazida inteira e cortada e fatiada no local, na frente de todos
Quem quiser pode escolher o pedaco do animal na hora e pedir para fritarem no local
Como em TODOS os paises que fui, aqui eles tambem amam o Brasil. Esqueca o petroleo ou a agricultura: eh o turismo que ainda vai fazer nosso pais rico.


Etosha National Park - As savanas da Namibia

Da capital, peguei um tour para conhecer as savanas da Namibia, que ocupam praticamente todo o norte do pais. Desta regiao, o mais conhecido eh o Parque Nacional Etosha, onde uma boa quantidade de animais selvagens possibilita otimas fotos.
Fui na estacao chuvosa, o que impediu de ver alguns animais, como elefantes, por exemplo, mas ainda assim foi fantastico.
Seguem algumas fotos:


Para andar nas perigosas savanas africas, um caminhao 4x4 com vidros reforcados
Antes de comecar o safari, uma pausa em um bar com um cranio de elefante exposto
No comeco do safari, um ninho gigante
Eu que tirei as fotos, acredita? Nao teve nenhum japones dessa vez!
No primeiro dia, veja quem resolve atacar a comida do acampamento. Um chacal! Brinque com ele e corra o risco de perder um dedo.
No outro dia, viemos hienas, muitas hienas, um animal que se alimenta geralmente dos restos dos outros animais
Vai embora minha filha!
Eles chamam de springbooks, mas nao deixa de ser um viadinho com um nome mais viadinho ainda
Zeeeeeeeeebra! Animais simpaticos. A zebra eh branca com listra preta ou preta com listra branca?
Animal selvagem, mas nao lembro o nome... vai la, eh um Touro Africano. Nao deixa de ser...
``Love is in the air...``
Girafas!
Para finalizar o safari, tente adivinhar que esta escondido ali, a espreita. Um leao! Haviam tres, mas infelizmente estavamos contra o sol


Esta foi a primeira parte da minha viagem pela Namibia, um pais desconhecido para mim ha 2 semanas atras.
O proximo post sera o ultimo da viagem, quem diria!

E, como eh o ultimo post, eu precisava escolher um lugar especial para terminar uma viagem tao fantastica.
O lugar ja foi escolhido aqui na Namibia e estou nele agora mesmo 
Conto no proximo post para voces o desfecho da viagem e qual eh o local!

Um abraco!