Após ter visitado a capital Windhoek e as savanas da Namibia, chegava o momento de terminar a viagem.
E para isto, o fim da aventura de volta ao mundo precisava ser em um lugar especial.
Foi assim que, durante 4 dias, me mandei para um dos lugares mais desolados e inóspitos do mundo: o deserto de Namib, que cobre toda a costa da Namibia, considerado o deserto mais antigo do planeta.
Deserto de Namib:
Por causa da corrente fria que vem há seculos da Antartica, toda a costa da Namibia tem um mar gelado e pouco convidativo, inclusive tendo a famosa Costa do Esqueleto ao norte.
Esta Costa ficou famosa pela enorme quantidade de navios que naufragou por ali no passado, tendo em vista o mar agitado e complicado.
Aos que sobreviviam ao naufrágio, restava em terra quilômetros e mais quilômetros de um dos piores e mais imperdoáveis desertos do mundo, o Namib, que formou-se ao longo dos anos justamente pela corrente de água fria vinda da Antartica. Daí o nome, Costa do Esqueleto, e daí o nome, Namíbia.
E no meio do deserto, Solitaire, a menor cidade da Namibia. No meio do nada, com carros enferrujados por todo canto e apenas um posto e um bar |
O Deserto de Namib cobre toda a faixa do litoral da Namibia, e para se chegar lá, dirige-se por centenas de quilômetros sem praticamente nada a vista: sem carros, sem animais ou qualquer forma de vida visível, apenas uma pequena vilazinha no meio do nada chamada Solitaire.
Mas é chegando lá que se percebe porque o Namib já foi tema de vários documentários, e está em diversas imagens de filmes em todo o mundo. Suas dunas são laranjas, quase vermelhas, e não bastasse estarem no deserto mais antigo do mundo, ainda são as maiores do planeta. Bonitas, enormes, imponentes.
Deserto de Namib e, ao fundo, a maior duna do mundo, com 350 metros de altura |
Escalar estas enormes dunas pode parecer fácil, já que as que oferecem belas paisagens tem cerca de 150 metros de altura, e a mais alta do mundo, que também fica ali, tem 350.
Mas experimente caminhar sob um sol de no mínimo quarenta graus sob uma areia extremamente fofa e você irá entender do que estou falando.
A sensação é a de que você está parado, sem conseguir realmente escalar a duna, enquanto o estoque de água vai diminuindo sensivelmente a cada 5 ou 10 passos, já que o calor é insuportável. A vontade é a de desistir, de voltar logo para o caminhão ou procurar sombra mais próxima.
O nascer do sol faz as areias ficarem alaranjadas |
Um dos locais mais secos do mundo, o Deserto Namib ainda assim abriga diversos animais que vivem sob seu chão |
Mas chegar no topo, outra vez, valeu muito a pena. As vistas que se tem de um deserto tão incrível foram demais. E não posso negar, o deserto faz sim você ficar mais pensativo sobre a sua vida (ainda mais em um fim de viagem!).
As areias que variam de cor conforme o horário do sol, e a imensidão sem absolutamente nada são algo incrível, uma paisagem que não oferece uma sensação igual.
Escalar esta duna com 150 metros de altura foi MUITO cansativo. O pé afundava na areia e era quase impossível se locomover |
No topo da duna! Com um chapéu meio Indiana Jones |
No grupo em que estava, ainda dormimos no meio do deserto, mas em barracas, o que tornava as noites completamente silensiosas, ás vezes apenas com o barulho do fogo que úsavamos para fazer a comida.
Contávamos histórias, ríamos, e provavelmente éramos os únicos seres humanos em um raio de quilômetros e mais quilômetros.
Como descer uma duna muito alta e íngreme? Ora, correndo! E seja o que Deus quiser... |
Nascer do sol |
Subimos as dunas, acordamos 5 da manhã em diversos dias para ver o nascer do sol e caminhamos ao meio dia no deserto para ver a região onde está o cemitério das árvores, que estão lá, estáticas, há vários séculos, em vista do chão endurecido.
Que guerrinha de neve que nada! No deserto, o ''material'' para a guerra são blocos de terra que se desmantelam quando jogados |
''Olha o abutre! Cuidado, uma vez um deles atacou um turista!' |
E foi lá, no meio do deserto mais antigo do mundo, com as dunas mais altas do planeta, que me bateu uma nostalgia e comecei a me lembrar com alegria de tudo que aconteceu nesta viagem.
Me lembrei dos primeiros preparativos, rodando o globo e planejando os lugares onde parar. Lembrei da correria para conseguir os vistos, os papéis, para organizar os equipamentos.
Comecei a pensar sobre a Nova Zelândia e sua natureza, sobre a primeira vez na Ásia em Bangcok(inesquecível!), sobre o país mais difícil de se mochilar e também o mais interessante (a Ìndia) e sobre tudo que aconteceu lá.
Lembrei da Turquia, das mudanças de roteiro de última hora, das pessoas que conheci. Lembrei das dificuldades também, dos ônibus de mais de 20 horas, do banho turco, de Angkor no Camboja.
Recordei da Missão Sudam, da senhora que me recebeu na cidade do Pum, do trekking com o guia Moku, da família pobre que me acolheu na Ìndia. Lembrei dos comentários incríveis e engraçados do blog, de todos que ajudaram, e do pessoal que viajou junto comigo no Camboja, na Turquia, no Nepal, as vezes aparecendo nas horas que eu mais precisava de um empurrão.
Consegue ler? É um sincero OBRIGADO direto das areias na Namibia a você, que me acompanhou nesta fantástica aventura! |
E acho que no final, o que passou pela minha cabeça foi uma sensação incrível de satisfação, de dever cumprido. Tinha um sonho e o realizei, maior até do que o sonho original! Fui longe, dei uma volta ao mundo, caramba! E ele nem é tão grande assim. No final, o mais difícil realmente é colocar a mochila nas costas e partir.
Comecei a pensar no que vem agora, mas me lembrei que uma parte da minha vida já está muito bem realizada, que aos 70 anos vou poder olhar para trás e dizer que uma grande parte do que sonhei se realizou, graças à força de vontade e a ajuda de pessoas maravilhosas. Uma volta ao mundo, uau!
E me preparei para partir, para acabar esta volta ao mundo, e tudo isto que foi tão fantástico.
Como em toda viagem, como em toda grande aventura, chega uma hora de ir embora, com um pouco de tristeza porque acabou, mas alegria por tudo, tudo que aconteceu. Arrumar as malas e voltar, para só então talvez cair a ficha de tudo o que passou em sua vida.
No deserto, percebi que é hora de finalmente ver de volta minha família, amigos e voltar a vida normal, com todos os desafios que ela também oferece.
É hora de voltar para buscar cumprir outros objetivos, outros sonhos que estão aí para serem realizados, afinal, a vida é para isto.
Hora de colocar a mochila nas costas, trazê-la de volta e deixá-la descansando por um tempo, depois de tudo que passou, de tantas coisas incríveis que me fizeram viver uns 10 anos nestes 100 dias.
Percebi que depois de 100 dias pelo mundo, é hora de voltar pra casa.